12/05/2012

África.

Talvez Eu Não Chegue A Lhe Ver
Como A Vi No Passado,
Mas Continuarei A Lhe Querer
Feito Sonho Não Realizado!

Talvez O Meu Vermelho
Nunca Jorre Em Teu Solo
Tudo O Que Presencia Meu Espelho
Todas As Vezes Em Que Choro!

África, Eu A Trago No Olhar
E Bem Dentro De Meu Coração,
Pois Sempre Estou A Chorar
Por Não Estar Em Seu Chão!

África, Minha Alma Chora
Por Lhe Ver Longe De Mim
Pois Há Séculos Fui Jogado Fora
Num Exílio Sem Fim!

África, Minha Querida
Nem A Morte Unirá Meu Ser Ao Seu
Pois As Intrigas Da Vida
Roubam O Pouco Que É Meu!

Um Dia Eu Fora Rei
E Hoje Sou Escravo
Punido Por Uma Injusta Lei
Que Me Tirou Do Solo Amado!

Minha Pele É Escura
Tal Qual A Cor Do Seu Chão,
E Ainda Tenho A Amargura
De Sobreviver Sob A Opressão!

Página 42 do Livro Cisne Negro - Editora Scortecci - 1992.


Baby - o poema.

Todos dizem que eu
tenho de fazer my way.
Só que meu sonho morreu
de um jeito que eu nem sei!

Nas ruas, camisetas com estampas
escritas: come back to me.
Enquanto sobrevivi em Sampa,
sem esquecer que fui feliz!

Vejo sempre o Homem-Aranha
lavando as paredes dos edifícios,
enquanto um político só ganha
em cima de alheio sacrifício!

Amargamente aprendi
que botar a mão no dinheiro é crime.
Se você, ao competir,
não jogar pelo outro time!

Baby, eu tento lhe procurar
nos quatro cantos da Terra
por saber que em Bagdá
não há paz nem com o fim das guerras!

Eu sou uma sinfonia
vagando pelo espaço,
sem sua doce alegria
nem a força de seu abraço!

Página 45 do Livro Cisne Negro - Editora Scortecci - 1992.

Rascunho.

Sou uma folha perdida
Vagando nos braços do tempo,
Qual uma nuvem partida
Pela força dos sete ventos!

Sou o tempo vazio
E perdido em busca das horas,
Nas quais navego sozinho,
Tristemente indo embora!

Sou o sonho finito
Afundando na realidade,
A fúria do próprio grito,
Louca em intensidade!

Sou mais um ser
Crente no sonho eterno,
Tentando assim fazer
Algo mais com o meu verso!

Sou, por certo, querida,
Anjo ou quem sabe ateu,
Sabendo que nesta vida
Quem mais te quis fui eu!

Sou algo mais que não entendo,
Superior aos meus próprios erros
E por isso não fico sofrendo,
Pois sei que eu sou eu mesmo!

Página 36 do Livro Cisne Negro - Editora Scortecci - 1992.

Foragido.

Não sou o poeta vulgar
Que só faz rimas pobres
E que não podendo se encontrar,
Se vende por metal vil e nobre!

Não sei fazer rima difícil
E desconheço o que é volátil.
Tampouco faço sacrifício,
Se é mais fácil ser prático!

Sou poeta de Minas,
Com histórias do Ceará,
Que passou por Amaralina
E tem saudade do Amapá!

Sou foragido do SNI,
Sobrevivente do AI-5.
Sem querer aprendi
A falar verdades quando minto!

Um dia fui sequestrado,
Confundido com microempresário,
E por pouco não fui esfolado
Quando viram meu último salário!

Sou poeta da terra,
Procurando uma Salomé
Enquanto o lobo da guerra
Usa e abusa de nossa fé!

Página 27 do Livro Cisne Negro - Editora Scortecci - 1992.

Grito.

Eu sou aquele que no tempo
Perdeu o trem e o bonde.
Aquele cujo sentimento
Ninguém sabe porque se esconde!

Voando nas asas do sonho,
Sou por certo a emoção
Que no papel componho,
Livre de coação!

Sou até, quem diria,
A ode de um tempo gasto,
Vagando dia-a-dia.
Passo!

Navego triste e sozinho,
Feito quem tem fome
De amor e de carinho.
Bicho-homem!

Não gosto muito de doce,
Pois o vinho da vida é amargo!
E hoje vivo como se eu fosse
Um bêbado à procura de um trago!

Grito feito louco desesperado,
Pedindo por socorro.
É inútil, não há ninguém do meu lado.
Então, morro!

Página 18 do Livro Cisne Negro - Editora Scortecci - 1992.